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Nenhuma ideologia pode reescrever a história

A criminalização da história é típica de regimes totalitários. A URSS tinha um departamento especializado em reescrever passagens e até manipular registros. Assim, a revisão ideológica da história tem como critério aquele que tem a voz mais alta.
Foi o que aconteceu ontem no Brasil.


A Princesa Isabel foi uma das figuras femininas mais importantes na história do país. Foi a primeira mulher a administrar o Brasil e foi a primeira mulher senadora do país. E claro, era aliada dos movimentos populares abolicionistas, recebia figuras do movimento como André Rebouças e tinha em sua mesa de trabalho sempre um ramo de camélias, símbolo do abolicionismo.
No inicio, quando não podia externar o apoio à causa abolicionista, agia na surdina, como em 1886, quando impediu a destruição do Quilombo do Leblon.
Antes, pagou do próprio bolso pela liberdade de escravos em cerimônia no Palácio de Cristal, libertando os últimos escravizados no município de Petrópolis. Sua primeira marca nas paginas da história, que poucos sabem, foi a promulgação da Lei do Ventre Livre.


Mas em 13/5/188 ela sanciona uma das mais emblemáticas normas brasileiras, a Lei Aurea, pondo fim a chaga da escravidão no Brasil 25 anos depois dos EUA. Na abertura do ano legislativo, ela realça que “confio que não hesitareis em apagar do direito pátrio a única exceção que nele figura em antagonismo com o espirito cristão e liberal das nossas instituições.”

Neste momento, o Barão de Cotegipe adverte que “a senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono.”
No que ela rebate e assegura que “se mil tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para por fim à escravidão no Brasil.”


Mas este exemplo da presença primorosa da mulher brasileira em nossos anais não foi suficiente e ontem o Presidente Lula revogou a Medalha Princesa Isabel. A justificativa do governo é que homenagear uma mulher branca, pela luta na área dos direitos humanos passa uma mensagem equivocada.
Martin Luther King, um herói nesta luta, dizia que as “pessoas não podem ser julgadas pela cor da pele mas pelo conteúdo do caráter.”

Se o governo atual não tem esta capacidade, bastava ele ter recorrido a uma charge do periódico ‘Semana Ilustrada’, em 1871, na sanção da Lei do Ventre Livre:

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