“Quem quer que faça crescer duas espigas de milho ou duas folhas de capim onde antes só crescia uma merece mais da humanidade e presta um serviço mais essencial a seu país do que qualquer outra pessoa.”
Jonathan Swift
Há 3 semanas meu filho se formou nos EUA e retornou ao Brasil.
Decidimos então subir de carro até o Pará em uma viagem de negócios.
É algo que sempre recomendo a todo brasileiro que quer conhecer melhor o seu país.
Os nossos livros didáticos de história costumam fatiar o passado em governos, revoluções e regimes políticos. Pouco se escreve dos grandes negócios e das inovações motivadas pelo mercado que mudaram e estão mudando o Brasil mais do que qualquer personagem histórico.
Esta é uma breve reflexão de um dos dias desta viagem que se passou no interior do Pará.
Como o Brasil ainda é detentor da maior fronteira agrícola do planeta, representada por áreas de pastagens degradadas, este é um lugar onde homens e mulheres são os historiadores do futuro.
Nesta fronteira o desejo de se globalizar é grande, mesmo ainda com deslizes na placa do quarto do hotel de “Do not disturb”:
Assim que saímos do hotel, com meu filho ao volante, ele dizia que não lembrava de uma rodovia de pista simples na Califórnia.
Como nosso agro nasceu e se desenvolveu no Sul, o nosso problema logístico no Norte é gigantesco.
Se as estradas romanas geram riquezas até os dias de hoje, aqui a falta delas impõe ao Brasil o custo mais elevado do mundo para escoar a sua safra.
As fotos a seguir são de um trajeto de 190 km, onde logo no inicio deste trecho encontramos o tombamento de uma carreta de soja e a consequente fila aguardando a liberação da estrada:
Com uma disponibilidade abençoada de água, luz e terra, o Brasil é o único país do mundo nos trópicos que foi capaz de desenvolver uma agricultura de alta performance.
Como o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar em todo o mundo, isto é uma benção para a nossa agricultura.
É por isto que 90% do crescimento da produção nos últimos anos se deve à produtividade.
Resultado: a safra chega antes do armazém e o milho tem que ficar no chão aguardando espaço no silo:
Se o século Americano foi caracterizado pela queda no preço das commodities em relação aos produtos industrializados, o século Chinês sinaliza uma inversão, com produtos industrializados cada vez mais baratos e uma voracidade sem igual por alimentos.
Esta notável competição por comida criará condições econômicas mais vantajosas para os países produtores agrícolas, com o campo começando a se colocar no centro de um ciclo inédito de investimentos e geração de riquezas.
Se a produção aflora sem que ainda não haja rodovia adequada, brasileiros tentam às margens destas estradas remediar o problema em busca de alguns trocados:
Para que a nossa soja possa chegar em Xangai, em média, pagamos em transporte cerca de 190 dólares, sendo que 145 dólares foi o frete dentro do Brasil.
Nosso concorrente argentino paga 102 dólares e o americano gasta apenas 71 dólares.
Neste caso de outra carreta tombada no mesmo trecho, é o adubo que não chegará ao seu destino:
Embora a vocação mais clara do Brasil seja a de produzir alimentos, as vezes há de se perguntar se o Brasil tem realmente vocação agrícola ou se é mais a presença de agricultores persistentes.
Pouco mais adiante, uma nova carreta queimada e ainda os restos da soja esparramadas pelo acostamento:
Se a agronegócio brasileiro fosse um país, ele seria a 28. maior economia do mundo e apresentaria um dos cinco maiores crescimentos entre todas as economias do planeta.
Mas se estes gargalos de logística e infraestrutura formam uma lista enorme de obstáculos, o país é uma benção que ainda não desfrutamos.
Se a soja sair do Pará, ela precisará de cerca de 32 dias para alcançar Xangai, enquanto que de Santos levará 39 dias.
Mas bastou mais alguns quilômetros e encontramos outro acidente.
Até parece que nesta fronteira agrícola somente os bravos plantam e só os doidos transportam:
Apesar deste breve resumo acima, agricultores brasileiros hoje alimentam mais de 1,5 bilhões de pessoas em todos os cantos do mundo.
Se o meu filho não se lembra de uma pista simples no país de nossos principais concorrentes agrícolas, mesmo assim o campo brasileiro tem vencido em muitas áreas esta competição com os concorrentes americanos.
Mas infelizmente o que mais vejo hoje é uma incrível incompreensão e total desinformação com estes homens e mulheres que hoje realizam uma segunda safra no mesmo ano agrícola sem irrigação. Agregando-se o boi, chega-se a 3 safras por ano.
Se fosse decidido oferecer um Premio Nobel ao setor agrícola mundial, esta revolução na agricultura tropical brasileira seria a primeira da lista.
Chegou o momento da agricultura ser percebida por seu real significado para o presente e o futuro de cada um dos brasileiros.
Ela é, sem dúvida, o nosso principal pilar sólido para o nosso crescimento econômico.
Este pequeno vídeo mostra isto.
Ele deixa claro que as estradas e a infra estrutura nós ainda não conseguimos.
Mas o país, como mostra a bandeira ao fundo, nós já temos.
Depende de nós!